Um construtor afeito à montagem de exposições para grandes artistas, galerias e museus, que caminha pela vida com o olhar capturado por objetos triviais.
Esse é João Rivera. Também um ex-designer desencantado com o tanto de poluição infligida ao planeta por refugos de produtos desenvolvidos nessa profissão, um menino que cresceu na oficina do pai, onde criava os próprios brinquedos, um homem que constrói barcos e se diverte brincando com as ferramentas e as coisas, um artista que teve sua arte reconhecida pelo público antes mesmo de se considerar um artista.
Quem fabrica enxerga o todo pelas partes que o compõe. É assim que João viaja pelo mundo, ele recolhe peças que depois rearranja e recombina em móbiles e pendentes, esculturas cinéticas que mixam cores e texturas de materiais diversos.
Ao se apropriar de itens ordinários para criar seu playground fantasioso, Rivera realiza trânsitos e cruzamentos tanto funcionais quanto socioculturais. Bacias, baldes, cuias, potes, peneiras, mata-moscas e uma infinidade de ingredientes prosaicos, metamorfoseiam-se em formas instigantes que convidam todos os públicos à interação.
O deslocamento da utilidade, que subverte a função, ressignifica meros funis, protetores de bolo, leques e outros instrumentos banais de uso comum e os transmuta em objetos de arte, reconfigurados em ready mades que encantam apreciadores variados.
Quando o observador se identifica, ao reconhecer as peças combinadas como elementos familiares, sente-se incluído no experimento do artista e é tomado de afeto pela obra. Uma magia que não está relacionada à interpretação intelectual da arte visual, mas a uma experiência lúdica imersiva em um ambiente tridimensional.
As cascatas que pendem diante do mosaico colorido em papel de seda compõe um jardim fantástico de flores hiperbólicas na escala concebida por João Rivera, que nos atrai para sua floresta encantada, onde o jogo entre o corpo e o espaço inspira carinho e provoca os sentidos para além da crítica racional.
