“Lembranças” é parte da pesquisa de Bruno Miguel sobre a vivência que os objetos partilham conosco, especialmente os do universo doméstico. Pratos, por exemplo, são testemunhas silenciosas das nossas histórias, nas cozinhas e nas salas. Por vezes, acompanham mudanças de endereço e são passados de uma geração à outra. Os de “Lembranças” têm origens diversas: lares, restaurantes, leilões… Neles, encontramos rastros do passado, como as marcas de talhares que podem nos levar a imaginar o som de cada riscar.
Ao reunir pratos usados, de segunda mão, Bruno Miguel realiza um gesto duplo: valoriza o que cada um traz consigo e imprime uma nova faceta, com spray e diferentes bicos, cujos ritmos e movimentos são cristalizados em uma explosão de cores. Em um novo lugar, esses pratos passam a compor uma única e grande trama, cujos passados vão se entrelaçando no presente.
A última camada deles, por sua vez, traz a história do próprio artista. Com mãe moçambicana e pai português, tendo vivido em diferentes zonas do Rio de Janeiro e exposto em cidades como Massachusetts, Nova Iorque, Berlim e Istambul – e, recentemente, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde estudou e hoje é professor –, Bruno Miguel nos atrai para novas lembranças sobre todo e qualquer objeto, por meio do afeto e do gesto.
