Sístole e diástole são os movimentos de contração e relaxamento do coração, que variam de velocidade. Pesquisador da natureza humana, o artista Jorge Fonseca joga luz sobre uma vibração específica do coração em uma instalação onde apresenta a sua visão desse estado tão singular quanto universal: o apaixonamento.


Quando você passa eu fico assim tem algo de explosiva e excitante, como quando a pessoa que nos encanta vem vindo em nossa direção e tudo se torna colorido, descontrolado, mais vivo. A obra parte de um olhar pacientemente atencioso para as relações afetivas. Há nela um manejo delicado, realizado pelas mãos do próprio artista, da madeira recortada e pintada com esmalte sintético, em cores variadas, e envolvida com fios de eletricidade. Valorizando a tumultuosa vida dos sentimentos, Jorge Fonseca trabalha com peças volumosas. Assim, dá corpo à vertigem do amor.
A instalação sugere um sentimento impossível de se esconder, um pegar nas mãos, um cuidar da chance do amor. Fonseca resgata na infância a memória das primeiras impressões em torno do encanto dos amores. Marceneiro até os 19 anos, em seguida ficou conhecido por bordar enquanto a carga e os passageiros embarcavam no trem que guiava como maquinista. Pouco antes, nessas pausas da ferrovia, Fonseca passara, sem incentivo externo, a frequentar exposições de arte. Munido de uma experiência estética particular do bairro bastante simples em que vivia em Conselheiro Lafaiete, sentiu-se impelido a encontrar um outro lugar para associar sua habilidade manual ao desejo por liberdade artística, que se tornou a arte contemporânea.




Com trinta anos de carreira, Jorge Fonseca tem no currículo prêmios importantes como o de estímulo à criação artística da Fundação Pollock-Krasner, de Nova York. Já o Prêmio FUNARTE o fez circular pelo Brasil com seu incrível projeto Fiotim – o Museu em Movimento. O gesto de Fonseca, como artista, transfigura para a arte o seu baú de memórias, rico de referências a um manejo artesanal da vida, ligado às classes populares, ao ateliê da velha tia bordadeira, às mulheres do baixo meretrício que, vivendo à beira da linha do trem, onde amores vêm e vão, lá experimentavam roupas e tecidos, trocavam confidências, dramas, intimidades e sonhos, como qualquer um que vive na tentativa de buscar a felicidade.

