As pinturas de Esther Bonder têm o poder de despertar uma sensação difícil de nomear, até mesmo para os olhares mais céticos e pragmáticos. Parece ser algo que está além da paz ou da libertação silenciosa que vem com o desapego momentâneo do ego: uma conexão com algo maior. Essa experiência sensorial, com sua vasta gama de sentimentos e emoções, é potencializada pela escolha da artista em dar protagonismo a elementos naturais e não humanos. Mais que a natureza em si, o que Bonder realmente pinta é a transformação.

Uma onda dura apenas alguns segundos antes de se desfazer e seguir sob outra forma, propagando-se em infinitos micromovimentos no mar. Esse intervalo entre um estado e outro é o cerne da pintura da artista. É nesse instante efêmero que ela encontra sua expressão, materializando a mudança na textura e na fluidez da espuma, tornada um símbolo da metamorfose como essência do ser. Porém, seu gesto pictórico não busca capturar a efemeridade para aprisioná-la, congelando o que é passageiro para que dure e seja possuído. Pelo contrário, sua arte reverencia o estado fugaz.
A transitoriedade sempre esteve presente em sua percepção do mundo. Quando trabalhava como florista, Bonder escutava repetidamente a mesma pergunta dos clientes: “Quanto tempo durará esta flor?”. Essa angústia em relação à permanência ofuscava o que era imprescindível e vital, a experiência de estar diante daquela beleza única e que, portanto, não se repetiria. Assim, em suas pinceladas, a artista trata a onda ou o brilho fugaz da luz sobre as águas como suficientes em sua breve existência. Essa ideia de transformação se manifesta também na própria construção pictórica, por meio do uso que faz da luz. Na paleta de diferentes azuis, verdes e brancos, encontramos a reinvenção da própria água, feita da dança entre os seus movimentos e as incidências luminosas agregadas.



Nascida à beira-mar, em Copacabana, e arquiteta de formação, Bonder trabalhou com Roberto Burle Marx em projetos de arte, jardins e paisagens, aprofundando sua relação com o mundo natural sob a influência de um dos maiores mestres. Mais tarde, deu continuidade aos seus estudos, investigando as relações entre a rotação da Terra, os movimentos dos mares e as oscilações das nossas emoções. Pintora que conjuga precisão técnica e um imaginário singular, Esther Bonder demonstra que, se a Terra e as águas afetam o nosso estado de espírito, sua arte não fica atrás.