Eduardo Coimbra define-se como um escultor motivado pela relação com o espaço. Sua obra existe em consequência de seu interesse pela interação do público com o trabalho no ambiente.
CECI N’EST PAS UNE PERSIENNE homenageia o belga René Magritte. Essa constatação nos faz refletir a respeito do real significado do que está diante de nossos olhos: tubos de acrílico iluminados por LEDS e adesivos que estampam imagens retroiluminadas do céu.
O céu é uma constante no imaginário do artista, que o tem como uma imagem peculiar: “O céu fala com qualquer pessoa. Do aborígene australiano ao diretor de um banco em Manhattan, qualquer pessoa entende o que é aquilo. É uma imagem que, na realidade, não é o registro de um local, é um conceito espacial.”
O céu misterioso, que é azul sem ser, que tem nuvens que parecem sólidas e não são, que é atemporal e adimensional, que fala com todos e que representa um abismo de ponta-cabeça. Céu que não ameaça ninguém, ao contrário, eleva as pessoas.
Alguém distraído pode achar que se trata de um trompe-l’oeil que simula uma janela. Um olhar mais apurado reconhece o aspecto “magritteano” da obra. A persiana, aqui, é o céu, não algo que está à sua frente. Atrás dela, não há nada além de uma parede.
A instalação desestabiliza o corpo e a mente do espectador, seja ele um mero passante ou esteja ali para contemplá-la. O trabalho é uma espécie de ponte entre arquitetura e paisagem: estimula a percepção de que algo se estende para além do que ali está e cria a percepção de uma nova dimensão.
Quase um buraco topológico que abre um escape do espaço em que vivemos através de uma saída que não existe, pois o objeto está dentro do mesmo ambiente que nós.
