Em “Adornando o absurdo”, Carolina Ponte desloca o crochê, o tricô e a tapeçaria da memória afetiva dos lares para se tornarem uma instalação de uma forma de vida incomum. Em suas mãos, esses materiais cotidianos ganharam feições atípicas, apontando outras dimensões simbólicas e ritualísticas.

Ao percorremos a obra, passamos por diferentes extratos, entre a identificação e o estranhamento: seria uma espécie rara de ser vivo? Uma planta ainda não catalogada? Células conectadas entre si por membranas, formando um tecido conjuntivo em festa, vistas de um microscópio?

Quase como uma colagem têxtil, “Adornando o absurdo” tem, em uma de suas muitas camadas, a história de Carolina. Baiana de Salvador, ela já morou no Rio de Janeiro e, atualmente, vive nos EUA. Já integrou residências artísticas na França e na Dinamarca. Seu currículo conta com mais de dez exposições individuais, de Paris à Cidade do México. O contato com diferentes escolas artísticas e a pesquisa por múltiplas referências fazem parte dos deslocamentos do seu corpo. Corpo este que, aliás, a artista traz para a sua obra, por meio da valorização do trabalho manual.

Tendo o excesso como força central da obra e a destreza como modo de se expressar, Carolina desenha com agulha e linha, administrando a resistência e a maleabilidade, material e metafórica, no tecido que vai surgindo e ofertando texturas e estímulos diversos.


“Adornando o absurdo” conjuga um caráter orgânico com uma beleza barroca, explorando uma estética do excedente, entre referências de épocas e estilos distintos: como um grande objeto aglutinador que de tudo se alimenta e nunca quer menos do que já provou.