Quando falamos em primavera, muitos imaginam cenas de suavidade e fartura, com paisagens que ostentam árvores e calçadas inteiras tomadas por flores. Essa é uma de muitas primaveras possíveis, radicalmente diferente da que encontramos no sertão nordestino. Nesse bioma brasileiro, a estação é árida, quente e seca. Algumas plantas, no entanto, atravessam esses longos períodos de estiagem e sobrevivem às altas temperaturas. Nelas, Andrea Lins encontra força de resistência, oferta de vida e inspiração para a sua nova série de obras.

Em Primavera no sertão, a artista carioca trabalha com as formas reais da flora sertaneja. Especificamente, com as flores de espécies popularmente conhecidas como mandacaru, xique-xique, coroa de frade, juazeiro, macambira e umbuzeiro, entre outras. A pesquisa documental é um impulso para o gesto ficcional que leva esse bioma para outros lugares, além do real. Esse trânsito, marcante na retórica de contrastes da artista, advém tanto das formas quanto de outros aspectos naturais e simbólicos da vegetação, ambos importantes para Lins: as inteligentes estratégias de sobrevivência das plantas e as origens de duas nomeações. Caatinga, em tupi-guarani, expressa palidez e significa “mata branca”; enquanto a noção de sertão remonta à imagem de um enorme deserto.

O processo pictórico da artista envolve desenhos compostos por minuciosas operações de recorte e colagem onde referências realistas se unem a uma poética fabulatória, frutos de uma formação mista. A artista dedicou-se a estudos sobre técnicas de reprodução e ilustração botânica na Escola Nacional de Botânica Tropical, e também às linguagens contemporâneas em cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. No ArtWall, o sertão de Andrea Lins, abundante em cor e quantidade, toma corpo em um conjunto de quase 100 paisagens vibrantes com existências independentes ao mesmo tempo em que forma uma imensa caatinga fantástica.