Do hotel, vê-se o azul. Quem se permite encará-lo por algum tempo, impressiona-se com a força e a soberania da natureza: ela está além de quaisquer tentativas de controle. Aos poucos, enquanto observamos o ir e o vir e nos entregamos à sua intensidade, é como se abandonássemos um estado de alerta e cada vez penetrássemos mais em um estado profundo. Não estamos falando apenas do mar de Copacabana, mas igualmente da obra de Ana Coutinho. Na originalidade da artista, encontramos uma pesquisa delicada sobre relações entre as cores, os símbolos, a natureza, o mar e o inconsciente.


Em Paisagens Abstratas, a artista nos apresenta sete pinturas que misturam acrílica e óleo sobre tela. Elas trazem marcas de ondulações, circulações, correntezas, voltas, torções, cujos traços fortes, largos e intensos sugerem um aspecto aquático. Ao mesmo tempo, os trabalhos evocam um tempo espiralar e labiríntico e inspiram uma experiência sem começo, sem meio e sem fim. O corpo de sua pintura como um todo já nasce sem um destino preciso. Ana Coutinho entende que sua prática precisa partir do desconhecido. Para alcançar esse estado, ela procura pintar livre de esboços, dirigindo-se à tela com apenas uma ideia inicial que poderá guiá-la ou se transformar organicamente, enquanto a artista permite que a própria pintura se desenrole.



Carioca de nascença, Ana Coutinho já morou em São Paulo, em Nova York e em Londres, onde cursou um Mestrado em Artes e Design na Universidade Central Saint Martins. Em 2020, quando retornou ao Rio de Janeiro, sua pintura sentiu os efeitos da natureza entranhada na cidade e se distanciou do aspecto mais formal e brutalista que havia tomado na capital paulista. Abrindo-se para novas janelas, durante a criação das sete obras de Paisagens Abstratas, a artista estudou os diferentes tons de luz que atravessam o Hotel Fairmont ao longo do dia. Assim, Ana Coutinho recria constantemente um azul que hoje lhe é próprio e que se tornou seu fio-condutor.