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SYMBOLA

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Christiane Laclau

Fundadora da Artmotiv

Com o desmembramento de um brinquedo minimalista, o Playmobil, e fundamentado nos princípios de simplicidade e funcionalidade da Bauhaus, Heberth Sobral se apropria de elementos de um jogo de montar e o reinventa em ações de desmontar e remontar, concebendo uma série de símbolos, presentes em todas as obras desta exposição.

A partir de uma operação de engenharia reversa com os bonecos, o artista utiliza suas peças – braços, olhos, cabelos e sorrisos – para criar uma linguagem visual que dialoga com o equilíbrio geométrico do construtivismo russo. Valendo-se igualmente do colorido das fachadas africanas da etnia Ndebeles e do simbolismo sincrético de Rubem Valentin, em pinturas chamadas de Ações, um conjunto de 100 obras, Sobral determina que juntas são uma empresa. Cada pessoa que adquire um trabalho dessa série é um pequeno acionista, que recebe seus dividendos independentemente do tamanho de sua carteira de investimentos.

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Nessa série, Ações, a representação semiótica de estados brasileiros, de nações e de orixás sintetiza o conceito de símbolo único, pois cada imagem produzida é singular, um ex-libris coletivo, que representa uma população ou seu conjunto de crenças. É o todo contido na unidade, partes de várias referências que se desdobram em uma nova figura que tem poder.  Nas palavras do artista: cada parte nos faz lembrar do “Poder do Um”.

A inspiração para os pictogramas surgiu da constatação de que as cédulas de dinheiro poderiam ser apenas um papel em branco, como um cheque, todavia estampam trabalhos artísticos diferentes para cada valor. “É a arte que dá valor ao dinheiro”, ele diz, e combina e recombina quatro elementos em pinturas de aparência e valor únicos.

A magia do poder da unidade se manifesta em consonância com outro propósito de Walter Gropius, na Bauhaus: a construção de uma sociedade menos egoísta. Um colecionador ou investidor, através de sua vontade e arranjo, pode chegar a possuir uma obra que o próprio artista nunca teve e jamais terá.

Quando Heberth transforma em objetos tridimensionais os quatro elementos visuais básicos (braços, olhos, cabelos e sorrisos) e incorpora o neoconcretismo de Lígia Clark e Oiticica, numa espécie de “Você Decide” escultórico, convida o espectador à interação com sua obra e propõe a abstração da percepção intelectual em favor de uma Gestalt lúdica.

Já ao utilizar cipós coloridos enredados em círculos, como se fossem imaginários úteros de ovos cósmicos, ele identifica essa madeira que pende das árvores com o cordão que precisa ser cortado para que sua obra nasça, de forma análoga ao milagre da manifestação da vida nesse plano terrestre. Liberta-se de uma ferramenta plástica formal, racional, para tragar o observador em um mergulho espiritual pela maravilha natural.

Esses anéis cheios de cor reproduzem o matizado das víboras, a pigmentação da penugem das aves e as estampas miméticas do couro animal. Eles também sugerem ser repositórios dos mistérios sobre nossas origens ou diretrizes divinas para a criação do universo conhecido. Assim como se assemelham a código de barras digitais.

Sobral acredita que arte é coisa de família. Para confirmar a tese dele, temos as informações de que os bonecos Playmobil foram presenteados pela avó, produzindo-lhe fortes memórias afetivas, já as expedições mateiras para procurar cipó para o artista foram empreendidas com seu tio e a bandeira gigante exposta na frente da galeria foi produzida pela mãe na máquina de costura.

Das suas ações, bandeiras e totens, emersos do esquartejamento de um brinquedo da infância, aos ninhos que reinterpretam o cordão umbilical da cosmogonia feminina e da Eva primeva, Heberth Sobral nos encanta estética e conceitualmente com um olhar puro, simples e inventivo sobre o que poderia, inadvertidamente, parecer com um recorte da visão do banal. Longe disso, há simbologia por toda parte.

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