A fotografia de Sergio Zalis causa um efeito misto, atordoante e maravilhoso. Ao observar os detalhes da floresta impressos no papel, é impossível dizer se há mais vida na vegetação original ou na inventada pelo artista. São imagens nas quais cada centímetro do quadro tem vida própria, sem hierarquia de valor entre uma ou outra partícula e cada uma delas, ao mesmo tempo, nos convida a mergulhar na obra como um todo.


Em Dicotomia, somos provocados a imergir nos dois mundos com os quais o artista se relaciona: o Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, e Scheveningse Bosjes, em Haia, nos Países Baixos. Ambos os jardins foram criados no século XIX e existem em plena cidade, como ilhas de natureza. O holandês tem um desenho mais livre. Não possui grades, nem ruas rigorosamente arquitetadas. Já o carioca é fértil tanto para o deleite, quanto para a ciência, com uma invejável biodiversidade.
Para alcançar a convivência que notamos entre o belo e o sublime, a harmonia e o vigoroso, Zalis usa uma técnica chamada focus stacking. Trata-se de uma sequência de capturas de uma mesma cena, a partir de distintos enfoques óticos. A cada clique, o foco é destinado a uma parte da cena. Posteriormente, o artista une os registros em uma única imagem, obtendo um resultado admiravelmente rico e exuberante e, sobretudo, indo além do que os olhos são capazes de ver.



Zalis renova o olhar do público carioca ao apresentar, longe do documental ou do científico, uma desorientação para reinventar a experiência com o mundo verde que se esconde entre asfaltos.

