As irmãs Alice e Gabi sempre tiveram suas carreiras individuais. Mas quando a pandemia do covid-19 nos atacou, elas moravam juntas e sentiram que, além do tempo parecer não passar, não havia um fio compreensível para ajudar a dar ordem às coisas. O vai e vem de ideias entre as duas desembocou em experimentos e reelaborações de trabalhos, levando-as a uma produção intensa em conjunto.
Já como Irmãs Gelli, a dupla de artistas apresenta “Não é cronológico”, obra que questiona a maneira como nos relacionamos com o tempo-espaço e nossa necessidade de poder, organização e determinação sobre os fatos. Neste primeiro trabalho de arte pública que realizam após ocuparem ruas de São Paulo e Nova York, a própria matéria-prima tem sua função pré-determinada flexibilizada: o guardanapo de papel, objeto secundário na mesa de refeições, é deslocado para ser apropriado como arte.
Diante desta escultura flutuante, somos provocados tanto pela ideia de um ciclo que se repete – sendo, portanto, previsível -, quanto por seu oposto, o inesperado, sem hora ou lugar para acontecer. Onde a obra começa? Onde termina? O que oculta em seu movimento para dentro da superfície? Como um grande emaranhado, “Não é cronológico” propõe um não saber de tempo ou lugar. Início, meio e fim se indeterminam. As ondulações emanam vida. Chegam a lembrar órgãos corporais ou um fluxo ininterrupto, enquanto sustentam uma presença instável entre o aparente e o mistério.
Os mais de 50 metros de comprimento são resultado da obsessão das artistas pela repetição. Essa linguagem, realizada de maneira particular pelas Irmãs Gelli, produz obras de grande escala onde convivem os contrários do cálculo e da desorientação. Cada parte tem seu lugar e sua importância, mas cada uma prescinde da necessidade de ser perfeita, pois é, antes de tudo, mais uma dentro do todo: um gesto de absoluta liberdade.
