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OUROBOROS

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Christiane Laclau

Fundadora da Artmotiv

O signo da serpente que engole a própria cauda é um dos mais antigos da humanidade. Alegoricamente, a representação circular simboliza o ciclo da constante evolução. Fechado sobre si mesmo, contém as ideias de movimento vida, continuidade, autofecundação, eterno retorno, ressurreição, criação, destruição e renovação. O infinito.

No início da pandemia, o plantio de um pé de maracujá surpreendeu Lin Lima com a semelhança entre o crescimento da planta e o desenvolvimento de seu trabalho. O vegetal espalhava ramos tentaculares em direções aleatórias, agarrava-se ao que surgia e inundou a paisagem com o colorido de folhas, flores, borboletas e pássaros. Essa profusão de matizes foi incorporada à produção do artista. A força do ser vivo retroalimentado, avançando adubado pelo húmus formado por seus frutos decompostos e recompostos por insetos, anelídeos e os fungos (que também evoluem de maneira análoga à sua criação), traduziu a ideia do ciclo de renovação eterna. O in totum (a totalidade), contido no OUROBOROS, sintetiza o conceito do grupo de obras apresentadas por Lin Lima.

Do espírito ao corpo

No grande mural e na pintura com tinta acrílica sobre tela, o artista encontrou, na repetição contínua do traço, a resposta para a expressão de um universo imagético que nasce do exercício de um desenho recorrente. Tal qual um mantra, seus traços se entrelaçam em linhas e em manchas de cor, dando relevo e profundidade a um trabalho de grande impacto plástico, emocional e poético. A tinta acrílica é aplicada com precisão em curvas que se distinguem pelo seu diâmetro. São imagens orgânicas, tridimensionais e diáfanas, que sugerem escamas, tecidos vegetais, teias ou casulos. Fantásticas nebulosas de linhas e cores abrem campo para a materialização do imponderável, levando a uma experiência de transcendência, tão utilizada pelos processos religiosos que se valem da repetição para modificar os estados da alma.
Quem está no comando das ações? O artista soberano que determina a linha ou a linha autônoma que flui guiando o artista? Lin Lima alcança a solução dessa dicotomia em uma obra de aspecto fractal, com vida própria, em um desenho sem começo nem fim.

Do corpo a mente

Na instalação em que um pequeno jardim orgânico emerge da compostagem doméstica do artista, revela-se o ciclo da vida que rebrota dos resíduos. Assemelhando-se às florestas que foram derrubadas para dar lugar a plantações de cana-de-açúcar, de café e por fim, viraram carvão, mas que podem ressurgir das cinzas e da destruição humana e recompor seu corpo e sua vitalidade. A videopoesia “O Verde Vencerá” complementa a obra. Nela, o artista criou uma mata com registros de diversas florestas, que remetem o espectador a uma natureza quase real, embora seja, de fato, montada digitalmente. Sobre essa imagem construída, que é reproduzida em loop, há intervenções textuais do artista. A alusão a homens invisíveis que arrastam correntes desperta o questionamento a respeito do aprisionamento às crenças e a paradigmas auto imputados, como a ideia equivocada de que as florestas são virgens. A obra expõe a responsabilidade do espectador sobre as consequências de suas ações sobre o meio ambiente.

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Da mente ao espírito

O isolamento de Lin Lima durante a pandemia não foi idílico e tampouco se resumiu à contemplação de belezas naturais. Em suas próprias palavras: “Nossa fauna e flora são ricas e coloridas, mas também tem muita angústia e sofrimento. Faz parte do nosso OUROBOROS”. Das reflexões sobre isolamento, contenção e encaixotamento em moradias, onde muitas pessoas – incluindo o próprio artista – ​receberam​, em caixas e caixotes, o necessário para viver, nasce sua mais recente ​obra. Lin Lima desconstrói e inverte a dobradura de maços vazios de cigarros, manipulando-as numa espécie de origami industrial. No avesso da forma, os personagens doentes, estampados para denunciar os malefícios do fumo, figuram encaixotados, em uma espécie de emulação da atualidade pandêmica enclausurada. A estrutura concebida com o alinhamento das caixas brancas, “habitadas” por seres aflitos, apresenta-se como uma mandala que espelha o tema da exposição – o OUROBOROS – e uma realidade em que o comportamento coletivo determina a salvação na roda da vida.

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