A associação de ideias unindo brinquedos infantis, geometria sagrada e multiplicação celular não é nada evidente. É preciso enxergar além do que cada coisa é. E ter um dom como o de Marcos Cardoso para a transmutação.
Um olho clínico para as oportunidades, tino para o improviso e presença de espírito no reconhecimento de possibilidades insuspeitas são qualidades natas. O artista as desenvolveu ao longo dos anos de sua trajetória árdua e as utilizou na vivência em barracões de escolas de samba, onde trabalhou com Joãosinho Trinta e todos os grandes carnavalescos.
Durante os 10 anos em que dirigiu a escolinha de samba “Pimpolhos da Grande Rio”, ele pesquisou uma alternativa para as armações metálicas das fantasias e encontrou os bambolês, um material flexível e maleável, com rica paleta de cores. Destruiu centenas deles antes de descobrir uma maneira de satisfazer seu espírito inquieto.
Na observação casual de uma criança brincando com desenhos de espirógrafo, reconheceu a similitude das formas orgânicas na manifestação gráfica de uma geometria divina. Torceu e retorceu os círculos de tubos coloridos na tentativa de reproduzir, tridimensionalmente, aquelas imagens, de maneira a criar arranjos de rosáceas, que se materializaram em formas semelhantes às das vistas na divisão celular dos vegetais.
Cardoso se reconhece como artista nos ambientes de exposição, mas, no ateliê, ele é um protocientista alquímico. Considera-se um ser natural, que não se expressa através do saber racional acadêmico, mas a partir da sensibilidade, da percepção e da transformação das energias presentes na Natureza. Sua abordagem particular torna suas obras cobiçadas e adquiridas por museus e colecionadores internacionais do quilate de David Bowie.
“Semente da Vida”, a instalação escolhida para comemorar o 15º aniversário do Shopping Leblon, é resultado de um artista em plena maestria no uso dos elementos com que trabalha. O que lhe permite erguer suas mandalas multiplicadas em escala monumental sobre a fachada do imóvel e semeá-las pelo interior da construção como pictogramas primaveris. Ícones multicoloridos da alegria interior com que o Marcos Cardoso supera os invernos existenciais.
