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Três Oceanos

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Foto de Christiane Laclau

Christiane Laclau

Fundadora da Artmotiv

Alberto Saraiva, Andrea Lins e Gabriela Ezcurra têm o oceano como uma convergência, relações de uma vida inteira que foram incorporadas tematicamente em suas obras, mas sem romantização e de modo consciente: a força de atração do oceano é tão grande quanto a limitação de nosso conhecimento sobre ele. Os três artistas nos atestam sobre os múltiplos modos de conhecer, que estão além da razão iluminista.

Alberto Saraiva nasceu em Manaus, onde os olhos não são capazes de alcançar as duas margens dos rios em uma única mirada. Quando adotou o Rio de Janeiro como lar, não teria como se intimidar com o horizonte do Atlântico. Esse contraste das águas doces e salgadas, mas igualmente vastas, permaneceu como um valor em suas pinturas e foi estendido a outros âmbitos de sua poética: dentro/fora, claridade/mistério, consciente/inconsciente… Tendo a luz como a sua principal ferramenta e sob uma perspectiva metafísica, o pintor torna o fundo do oceano um lugar e uma paisagem.

A liberdade alcançada pela intimidade de Andrea Lins com as praias de Angra dos Reis e de São Conrado foi apropriada pela artista para criar um mundo de seres submarinos imaginários. A partir da colagem de tela sobre tela e da azulejaria, ela constrói uma natureza de ares oníricos, específicos da tradição surrealista e sua porosidade entre a ciência e a imaginação. A pesquisa também tem como referência sua formação em ilustração científica e o olhar de seu pai, mergulhador apaixonado. Com recursos precisos, os cavalos-marinhos e as lagostas, deslocados das águas para as obras, são armadilhas ao espectador, deslocado do real para imergir na profundidade silenciosa do oceano de Lins.

Gabriela Ezcurra nasceu em Buenos Aires, onde pôde conviver com o Tigre, o único dos grandes deltas do mundo a não desaguar no oceano — uma das muitas experiências aquáticas que permeiam sua vida e obra. Todos os países em que morou — Argentina, Itália, Estados Unidos, Uruguai e, atualmente, Brasil — são ostensivamente banhados pelas águas. Seu lugar estrangeiro lhe permitiu ver sem vícios, se fascinar pela estranheza quase alienígena dos seres e vegetais das águas mais e menos profundas. A cerâmica esmaltada e a pesquisa científica instituem seres-obras duplos, com reminiscências do real, mas que pertencem a outra ordem.

Mais de 70% da Terra é ocupada pelos oceanos, dos quais conhecemos apenas a superfície. Esse assombro é fundamental para a constituição da humanidade: é a garantia da contradição. Talvez seja também um dos papéis da arte no mundo: aprender e se educar para além da palavra. Nesses três oceanos, nos deparamos com o mistério e o desconhecido que pode parecer ter origem em outro planeta, mas são nossos. Alberto, Andrea e Gabriela, dispostos a mergulhar em novas profundezas da criação, nos convidam a mergulhar com eles.

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