Há um momento que pode sintetizar a sensibilidade de Marcos Cardoso: certa vez, ao observar uma criança fazendo desenhos com um espirógrafo, reconheceu nos traços uma semelhança com a manifestação gráfica de uma geometria sagrada. Esse episódio conecta-se com a longa vivência do artista nos barracões das escolas de samba, entre grandes carnavalescos, onde pesquisou alternativas para as armações metálicas das fantasias de carnaval. Nos bambolês, Cardoso encontrou a matéria de seu trabalho, torcendo e retorcendo-os em arranjos surpreendentes. Conversando com as formas divinas, criou a sua própria versão dessa geometria, que vemos hoje no Hotel Fairmont.
Na Geometria Carioca de Marcos Cardoso, as imagens sugerem uma relação com o sagrado e com a natureza. Elas apontam para a divisão celular dos vegetais, mas também nos remetem a uma natureza desconhecida. Longe do artificialismo e da busca por padrões, as obras propõem a valorização da sensação e da percepção. Pescador na juventude, quando tecia redes que seriam lançadas ao mar, Cardoso é um caso raro de artista que não usa a geometria a partir da racionalidade. Para ele, a geometria vem depois, como forma de lidar com a natureza e os objetos – uma experiência materializada com tamanha originalidade que fez museus brasileiros e estrangeiros, além de artistas como David Bowie, adquirirem suas obras.
Após destruir muitos destes tubos coloridos, Cardoso faz com o bambolê e sua rica paleta de cores aquilo que propõe como Pintura Expandida. Ao invés de trabalhar com tintas, pratica o que chama de extrativismo urbano, incorporando o resultado do consumismo em sua obra: tudo que é descartado, mas que guarda um simbolismo poderoso será resgatado na reutilização praticada pelo artista. Ao mundo que devora e produz excessos, Marcos Cardoso devolve exageros, mas um exagero com paciência, psicodélico e alquímico que propõe um outro tempo e uma outra experiência – tanto da arte quanto do mundo.
